1/01/2008

Prefácio
André Nigri


Fogo Paulista é o nome de uma bebida. Fogo Paulista é o nome deste livro. Ambos embriagam. Ambos são feitos da mesma mistura. Ambos também têm o mesmo efeito, o efeito BAG - dão Barato, são Alcoólicos e Gostosos. O livro, tal como a bebida, tem efeito energético. Por isso costuma-se beber num gole só. Mas um leva vantagem sobre outro. Enquanto o líquido, se deglutido até o final causa males ao fígado, o texto desce sem que seja necessário recorrer ao Engov no fim.
Sérgio Pinheiro Lopes sabe bem o que é isso. O primeiro goleitura pode até oferecer resistência, depois o porre é inevitável. É como escrever um prefácil - não é nada fácil, com perdão do trocadilho bocó -, difícil é depois do primeiro copo. O primeiro copo de Fogo Paulista, o livro, não a bebida, é Isca de Polícia. No terceiro copo, "Fogo Paulista", conto com o mesmo nome do livro, a gente fica com vontade de esticar a noite de bebedeira literária do Sérgio.
Noite porque são três contos noturnos - ao autor não interessa muito o sol, mesmo que boa parte do que ocorre se passe durante o dia. Mas o sol nunca nasce em Fogo Paulista. Também não nasce para o protagonista.
Edu é fraco como um sol em dia nublado, um dia nublado típico de São Paulo. Este sol paulistano que está sempre disposto a sair. Ele também está disposto a sair. Mas Sérgio é cruel e não o perdoa. O leitor também não, porque três doses é pouco. Mas o autor promete uma longa bebedeira para o próximo encontro. Ah, antes de entrar neste texto etílico, prepare-se porque há sempre uma morte. É como se Edu tivesse lido Ovídio no seu tempo de ócio em meio aos alfarrábios da estante: Nemo ante obitum beatus est (Ninguém é feliz antes de morrer).